Educação de Surdos – Planeamento Inclusivo com o Desenho Universal da Aprendizagem

Introdução

Este curso surge da necessidade de promover uma educação de pessoas surdas que vá além da perspetiva inclusiva tradicional. Pretende contribuir para a formação contínua e o desenvolvimento de novas competências pedagógicas de docentes, bem como para a requalificação profissional de quem atua, ou pretende atuar, em contextos educativos diversos e inclusivos. Ao final da formação, os participantes deverão ser capazes de elaborar um plano de aula orientado para estudantes surdos, integrando as suas especificidades culturais, linguísticas e identitárias de forma consciente e intencional no processo de ensino e aprendizagem. Para tal, iniciaremos com uma reflexão sobre os aspetos culturais e identitários da surdez, compreendendo-a não apenas sob um ponto de vista clínico, mas enquanto fenómeno sociocultural. É fundamental entender como as próprias pessoas surdas se percebem enquanto membros de uma comunidade que se expressa através da Língua Gestual Portuguesa e que partilha uma cultura e identidades construídas a partir das suas vivências. Exploraremos, em seguida, a história da educação de surdos, realizando uma viagem no tempo que permitirá compreender como a visão clínica — baseada na ideia de que estas pessoas precisariam ser “corrigidas” — influenciou profundamente as práticas educativas ao longo dos séculos. Esta análise histórica ajudará a compreender as mudanças ocorridas até às abordagens contemporâneas. A partir dessa base, avançaremos para a diferenciação entre educação inclusiva e educação bilíngue, analisando como cada modelo responde (ou não) às necessidades do estudante surdo no contexto atual. Num momento posterior, abordaremos a legislação em vigor, identificando o conjunto de leis e normas que orientam a educação de pessoas surdas e asseguram que os princípios definidos em documentos oficiais se concretizem na prática educativa. Por fim, exploraremos o Desenho Universal da Aprendizagem (DUA) como ferramenta de apoio ao planeamento pedagógico, permitindo que os docentes criem experiências de ensino acessíveis e significativas, capazes de promover a aprendizagem de todos os estudantes. Com base em todos estes conhecimentos, os formandos serão desafiados a conceber e implementar um plano de aula ou uma sequência didática que valorize o estudante surdo, respeite as suas particularidades e recorra a estratégias pedagógicas coerentes com o seu modo de aprender.

Objetivos

• Reconhecer os aspetos culturais, linguísticos e identitários da comunidade surda, compreendendo a surdez enquanto fenómeno sociocultural e não apenas clínico;

• Compreender a evolução histórica da educação de pessoas surdas, no mundo e em Portugal, identificando as principais abordagens pedagógicas e distinguindo os modelos de educação inclusiva e de educação bilíngue;

• Identificar e analisar a legislação e as políticas públicas portuguesas que orientam e garantem o direito à educação de pessoas surdas;

• Explorar e aplicar os princípios do Desenho Universal da Aprendizagem (DUA) como ferramenta de planeamento pedagógico que favorece a acessibilidade e a aprendizagem significativa;

• Elaborar um plano de aula ou sequência didática que integre os conhecimentos adquiridos, valorizando a identidade surda e adotando práticas pedagógicas inclusivas e culturalmente sensíveis.

Competências

• Analisar criticamente as dimensões culturais, linguísticas e identitárias da comunidade surda, reconhecendo a surdez como elemento constitutivo de uma cultura própria;

• Interpretar a evolução histórica e as principais abordagens pedagógicas na educação de surdos, compreendendo os impactos das perspetivas inclusiva e bilíngue no processo educativo;

• Avaliar a legislação e as políticas públicas portuguesas relacionadas à educação de pessoas surdas, compreendendo o seu papel na promoção da equidade e da acessibilidade educativa;

• Integrar os princípios do Desenho Universal da Aprendizagem (DUA) no planeamento pedagógico, de forma a promover práticas educativas acessíveis e centradas na diversidade dos estudantes;

• Planear e implementar estratégias e recursos pedagógicos adequados ao ensino de estudantes surdos, traduzindo os conhecimentos teóricos em práticas didáticas inclusivas e culturalmente sensíveis.

Destinatários

• Professores e educadores de todos os níveis de ensino que desejem aperfeiçoar práticas pedagógicas voltadas à diversidade e à acessibilidade;

• Técnicos de apoio à educação especial, que colaboram diretamente no acompanhamento de estudantes surdos;

• Coordenadores pedagógicos, diretores e gestores escolares, responsáveis por planear e implementar políticas de educação inclusiva;

• Psicólogos, terapeutas da fala e outros técnicos especializados, que integram equipas multidisciplinares de apoio à aprendizagem;

• Formadores e mediadores educativos em contextos formais e não formais de ensino;

• Estudantes do ensino superior nas áreas da Educação, Psicologia, Ciências Sociais ou afins, interessados em adquirir competências relacionadas à educação inclusiva e bilíngue.

Pré-requisitos para a Frequência do Curso

a) Titulares que tenham obtido no mínimo o grau do ensino secundário (12.º ano de escolaridade) ou equivalente;

b) Titulares de residência fiscal em Portugal, durante a frequência da formação;

c) Idade mínima: 23 anos.

Critérios de Admissão

1º Ter submetido a candidatura completa;

2º Pertencer a entidade parceira da UAb no âmbito do Projeto Impulso 2025. Se for o caso, no formulário da candidatura indicar a “Entidade patronal”;

3º Ordem cronológica do registo da candidatura.

Nº de Vagas: 75.

Metodologia

A metodologia do curso assenta numa abordagem participativa, colaborativa e reflexiva, que valoriza o envolvimento ativo dos estudantes em todas as etapas do processo de aprendizagem. Pretende-se promover a construção conjunta do conhecimento, articulando momentos de estudo individual, de aprendizagem por pares e de aplicação prática dos conteúdos. Durante o percurso formativo, os participantes serão incentivados a refletir criticamente sobre a surdez, a inclusão e o Desenho Universal da Aprendizagem (DUA), relacionando a teoria com a prática pedagógica. Cada participante será estimulado a participar ativamente nas discussões, fóruns e atividades propostas em cada módulo. Essa participação visa favorecer a autonomia, a responsabilidade e o aprofundamento dos temas abordados, por meio da partilha de experiências e da análise crítica dos materiais de estudo. O curso valoriza a interação entre os participantes como meio de aprendizagem e de construção coletiva de saberes. As atividades colaborativas, como debates, comentários e trocas de ideias nos espaços virtuais, permitem desenvolver competências de diálogo, escuta e cooperação, fundamentais para o trabalho em contextos educativos inclusivos. Ao longo do curso, os participantes irão preparar um trabalho final que sintetiza os conhecimentos adquiridos. Esse trabalho consistirá na elaboração de um plano de aula inclusivo, fundamentado nos princípios do DUA e nas perspetivas da educação bilíngue para surdos. A atividade tem caráter prático e busca concretizar a articulação entre teoria, reflexão e ação pedagógica.

Estrutura Curricular

Módulo 0 – Ambientação Online


Módulo 1 – Introdução à Surdez: Deficiência ou Diferença?

Conteúdos:

• A dimensão clínica e cultural da surdez;

• Conceitos de cultura e comunidade surda;

• Perspetivas contemporâneas sobre identidade e diferença.


Módulo 2 – História da Educação de Surdos

Conteúdos:

• Panorama global: da exclusão à educação formal;

• Marcos históricos: Abade de L’Épée, oralismo, comunicação total e bilinguismo;

• Contexto português: instituições, movimentos e transformações.


Módulo 3 – Educação Inclusiva e Educação Bilíngue

Conteúdos:

• Conceitos e fundamentos da educação inclusiva;

• Perspetivas da educação bilíngue: Língua Gestual Portuguesa (LGP) e língua portuguesa escrita/oral;

• Comparação entre modelos: potencialidades e desafios.


Módulo 4 – Legislações e Políticas Educativas em Portugal

Conteúdos:

• Declarações internacionais (ONU, UNESCO) e seu impacto nas políticas nacionais;

• Leis e decretos portugueses sobre inclusão e educação de surdos;

• Direitos linguísticos e reconhecimento da LGP;

• Políticas atuais e desafios de implementação.


Módulo 5 – Introdução ao Desenho Universal da Aprendizagem (DUA)

Conteúdos:

• Origem e fundamentos do DUA;

• Os três princípios fundamentais: o Múltiplas formas de representação; o Múltiplas formas de ação e expressão; o Múltiplas formas de envolvimento.

• DUA e acessibilidade: da padronização à personalização da aprendizagem.


Módulo 6 – Planeamento de Aulas com o Desenho Universal da Aprendizagem

Conteúdos:

• Como o DUA responde às necessidades comunicacionais e visuais dos estudantes surdos;

• Estratégias pedagógicas visuais, multimodais e tecnológicas;

• Relação entre o DUA e o bilinguismo (LGP / português escrito);

• Aplicação prática no planeamento pedagógico e seleção de recursos;

• Boas práticas e exemplos de planos de aula inclusivos.


Módulo 7 – Orientações para a Criação dos Planos de Aula

Conteúdos:

• Estrutura e componentes essenciais do plano de aula inclusivo;

• Adequação dos objetivos e estratégias ao perfil dos estudantes;

• Avaliação e acessibilidade nos recursos pedagógicos.

Avaliação e Classificação Final

Esta microcredencial adota o modelo de avaliação contínua, sendo a classificação final dos formandos o resultado do trabalho desenvolvido ao longo do curso, nomeadamente, a participação ativa nos fóruns e a realização de atividades de avaliação propostas. Assim, a avaliação decorrerá da participação efetiva nas atividades formativas de caráter individual (leitura dos recursos disponibilizados, trabalhos escritos) e nas atividades formativas de caráter colaborativo (interação entre os formandos e docentes, partilha de leituras e conhecimentos, participação nos fóruns de discussão). Espera-se ainda que os formandos apresentem um trabalho final individual acerca do tema abordado na formação. A classificação final resulta, como tal, da avaliação dos seguintes elementos e critérios: • Presença e participação nas atividades propostas – 40%; • Trabalho final – 60%. Assim, a avaliação final do módulo é atribuída pela média simples numa escala de 0 a 10 valores. A classificação final do curso traduz a média da avaliação obtida nos módulos, expressa na escala de 0 a 20 valores. A conclusão da formação com aproveitamento está sujeita à obtenção de uma nota final igual ou superior a 9,5 valores.